Esta história, A irmã e a meia-irmã, foi publicada no livro Légendes d’Alsace, Éditions Ouest-France – Rennes – 2010, p. 338, escrita originalmente em alemão por Auguste Stoeber (1808-1884), escritor responsável pela coleta e publicação de histórias da Alsácia, região da França, às margens do Reno, na fronteira com a Alemanha. Traduzida do francês por Dagoberto Buim Arena.

A irmã e a meia-irmã

Era uma vez uma mulher que tinha duas filhas. Uma era do primeiro casamento de seu marido, e a outra era sua própria filha. Um dia, a meia-irmã estava fiando na beira do poço, e o novelo caiu na água. Por isso, a madrasta bateu nela com crueldade. Ela voltou ao poço e quis recuperar o novelo, mas a madrasta lhe deu um empurrão tão forte que a pobre menina caiu no poço.

Lá no fundo, ela encontrou um grande e magnífico pomar. Como ela estava em prantos, a pereira disse a ela:

– Menina, por que você chora assim?

A menina respondeu:

– Não tenho eu razão para chorar? Minha mãezinha me deu um empurrão tão forte que eu caí dentro do poço!

A pereira disse a ela:

– Menina, estenda teu avental, que eu vou dar algumas peras.

A menina recebeu dela as mais belas peras.

Em seguida, ela chegou à ameixeira; a ameixeira lhe perguntou:

– Menina, por que você chora assim?

A menina respondeu:

– Eu não tenho razão para chorar? Minha mãezinha me deu um empurrão tão forte que eu caí dentro do poço.

A ameixeira respondeu a ela:

– Estenda teu avental; eu vou dar a você algumas ameixas.

Ela encheu o avental com as mais belas ameixas. A boa menininha fez isso com outras árvores.

Finalmente ela chegou a um grande castelo todo de ouro. Ela chorava sempre copiosamente. A Dama Branca, a olhava pela janela; ela lhe perguntou:

– Menina, por que você chora?

– Eu não tenho razão para chorar? Minha mãezinha me deu um empurrão tão forte que caí dentro do poço.

– Sabe, disse a mulher. Você pode passar a noite comigo; mas, primeiro, diga-me, onde prefere comer: com o cachorrinho e com o gatinho ou com o Senhor e com a Senhora?

A menina respondeu modestamente:

– Com o cachorrinho e com o gatinho. Eu não quero incomodar ninguém.

E depois, por isso, foi permitido a ela comer com o Senhor e com a Senhora.

A mulher lhe perguntou:

– Onde prefere dormir? Com o cachorrinho e o gatinho ou com o Senhor e com a Senhora?

A menina respondeu:

– Com o cachorrinho e com o gatinho.

E por isso foi permitido a ela dormir com o Senhor e com a Senhora.

No dia seguinte, a senhora perguntou a ela:

– Como prefere ser conduzida para a sua casa? Em uma carruagem coberta de poeira e de resina das árvores ou em uma toda de ouro e prata?

A menina respondeu:

– Em uma coberta de pó e de resina.

Mas foi permitido a ela voltar em uma carruagem de ouro e prata.

Quando ela chegou a sua casa, a sua irmãzinha, que a viu pela janela, se pôs a bater as mãos e a cantar:

O Bidi bidi boum!

Minha irmãzinha é chegada

E pesadamente carregada,

Com ouro e prata.

Eu quero ajudá-la a descarregar.

O Bidi bidi boum!

Quando a malvada mãe viu que a meia-irmã tinha chegado assim com grandes honras, disse a sua filha:

– Sabe, Annete? Joga também seu novelo no poço e salta em seguida. Quem sabe? Talvez aconteça com você lá em baixo como aconteceu com sua irmãzinha, e você poderá voltar em uma carruagem de ouro.

Mas ela era uma criança malvada e teimosa! Mal a mãe acabara de falar, a menininha jogou o novelo lá embaixo no poço, saltou em seguida e encontrou o belo pomar, como já contei a vocês. O sol brilhava com um esplendor de ouro, de rosas e de flor-de-lis! Era um verdadeiro esplendor. A menina chegou à pereira e disse:

– Vamos! Dê-me algumas peras!

Ela esperou algum tempo e a pereira não se movia. Ela andou mais um pouco, chegou à ameixeira e disse:

– Vamos, ameixeira, dê-me algumas ameixas.

Mas ninguém lhe deu nada! Foi o que fizeram a ameixeira e as outras árvores, mas isso eu nem preciso contar a vocês.

Bem no fundo do pomar, a Dama Branca olhou de novo para fora de seu castelo e perguntou à menina:

– Menina, onde você vai? De onde você vem? Que pede o teu coraçãozinho?

– Eu quero entrar, eu quero comer, eu quero dormir em uma caminha de ouro e quero voltar em uma carruagem de ouro.

A Senhora fez esforço para segurar o riso, e continuou com suas perguntas:

– Com quem prefere comer: com o cachorro e com o gato ou com o Patrão e com a Senhora?

-Eh! Com o Patrão e com a Senhora, claro!

E lá em cima, ela foi obrigada, por punição, a comer com cachorro e com o gato.

Um pouco mais tarde, a Senhora perguntou novamente:

– Junto de quem gostaria de dormir? Com o cachorro e com o gato ou com o Patrão e com a Senhora?

-Eh! Com o Patrão e com a Senhora, claro!

Mas ela foi obrigada a dormir com o cachorro e com o gato. Assim se passou com a menina malvada.

No dia seguinte, quando ela se levantou, a Senhora lhe perguntou?

– Como prefere voltar para tua casa? Em uma carruagem coberta de poeira e de resina de árvores ou em uma carruagem de ouro e prata?

– Eh! Em uma carruagem de ouro, gritou!

Mas como punição, ela foi obrigada a voltar em uma carruagem coberta de poeira e de resina.

O que disse a mãe, quando sua filha voltou em uma carruagem coberta de poeira, com vergonha e humilhada? Qual cara ela fez então? Sim, eu gostaria de dizer a vocês, mas minha bisavó, que foi quem me contou essa historinha, começou a perder a memória e ela não pôde se lembrar do resto.

História de A Dama Branca, personagem de A Irmã e a Meia-Irmã.

A Weisse Frau (Dama Branca) era um espectro que durante muitos anos apareceu em castelos reais alemães, sobretudo nos de Karlsruhe, Berlim, Bayreuth, Darmstadt e Neuhaus, na Boémia. “Vestida de branco, era inofensiva, limitando-se a inclinar a cabeça quando se encontrava com alguém. Corriam, no entanto, rumores entre os Hohenzollerns, a família real da Prússia, de que ela era vista antes da ocorrência de catástrofes e mortes na família. Em dezembro de l628, a Dama Branca apareceu no palácio real de Berlim e disse: -Vinde, julgai os rápidos e os mortos! Eu aguardo o meu julgamento. Uma lenda identificou-a com o espírito de uma mulher do século XV, Bertha, ou Perchta, von Rosenberg, de Neuhaus, que de noite visitava os quartos de bebês reais para embalar as crianças enquanto as amas dormiam. Quando certa vez uma ama, aterrorizada, a viu, ela disse: -Eu não sou, como tu, uma estranha entre estas paredes. Eu sou da família, e esta criança descende dos filhos dos meus filhos. Os Hohenzollerns explicavam a Dama Branca como sendo o fantasma da condessa Agnes de Orlamünde, emparedada viva por ter envenenado os próprios filhos. Era por vezes descrita vestida de preto e branco, as cores da Prússia. A sua aparição foi documentada pela primeira vez em 1486 no Palácio de Bayreuth, e dizem que foi vista pela última vez em 1879. A morte de Frederico I, o primeiro rei da Prússia, em 1713 foi precipitada pela sua crença na Dama Branca. A sua segunda mulher, que sofria de uma loucura ligeira, costumava vestir-se de musselina branca. Certa tarde, escapou-se das suas aias e atravessou uma porta de vidro antes de entrar nos aposentos de Frederico. O rei acordou da sua sesta e ficou tão aterrorizado ao ver a aparição vestida de branco com sangue a escorrer pelo vestido que adoeceu. Morreu pouco depois, convencido de que a Weisse Frau o tinha amaldiçoado.

Fonte: http://medievallegends.blogspot.com/search?q=dama+branca

Fotos ilustrativas

Poço

Carruagens

Carruagem dos Oceanos

Carro triunfal. Fazia parte do conjunto de cinco coches temáticos e dez de acompanhamento que integraram o cortejo da Embaixada ao Papa Clemente XI, enviada a Roma pelo rei D. João V em 1716.
Instituição / Proprietário: Museu Nacional dos Coches, Portugal
Denominação / Título: Coche da Embaixada ao Papa Clemente XI – Oceanos
Datação:1716 dC
Autoria / Produção: Desconhecido / Roma, Itália
Informação Técnica: Madeiras; couro; ferro; veludo de seda; brocado de seda; entretela de linho; palha
Fotógrafo: Nuno Fevereiro, 2002
Copyright: © DGPC

Coche de Filipe II

Exemplar raro de viatura régia, é o coche mais antigo da coleção do Museu. Trata-se de um modelo arcaico e corresponde ao tipo de veículo utilizado já em finais do século XVI. Pertenceu ao rei Filipe II (Filipe III de Espanha) que o terá utilizado na sua visita a Portugal, em 1619. Século XVI – XVII. Viatura de viagem de Trabalho. Espanhol. Dimensões: 572 x 185 x 241 cm.

Fonte: http://museudoscoches.gov.pt/pt/explore/colecao/t-detalhe/?c=coche-de-filipe-ii