A Filha do gigante
Tradução: Dagoberto Buim Arena
Vestígio da Idade Média, o Castelo Nideck está localizado a noroeste da cidade de Oberhaslach, sobre uma elevação de arenito, a uma altitude de mais de 500 m. Na verdade, são duas edificações separadas: as torres do castelo superior domina, quinze metros acima, o castelo inferior. De lá, tem-se uma esplêndida vista da floresta, o vale da Bruche, do castelo Guirbaden e as alturas do Champ du Feu. Ao sul desses vestígios, uma trilha bucólica leva à cachoeira Nideck que se lança do alto de uma falésia de rocha vulcânica, com 25 m de altura. O lugar arborizado parece um ambiente mágico, adequado à lenda.
A História
Há muito, muito tempo, os gigantes foram os primeiros habitantes da Alsácia, erguendo com as suas mãos imensas a barreira montanhosa dos Vosges para dar lugar aos homens com quem conviviam em harmonia. Um casal de gigantes e sua filha viviam no castelo de Nideck. Um dia, a criança, entediada, desceu a colina, cruzando florestas e bosques com grandes passadas até entrar na terra dos homens. Inocente e cândida, as aldeias, os campanários e os campos semeados pareciam-lhe um mundo em miniatura surpreendente. Achou tudo muito estranho, ao ver um camponês a seus pés arando seu campo, “Nossa, que lindo brinquedo”, exclamou.
“Vou levá-lo para casa.” Rapidamente, ela se ajoelhou e abriu o avental, varrendo com um gesto de mão tudo que se mexia, fechando-os em seu avental. Saltando de alegria, ela correu em direção ao castelo, saudando seu pai “Oh pai … querido pai, encontrei um brinquedo maravilhoso no vale que nunca tinha visto aqui do alto.” O pai à mesa, bebendo seu vinho bem fresco, observou a filhinha e perguntou-lhe: “O que você está trazendo tão apertado em seu avental? Mostre-me esse achado”. Desdobrando o avental, a alegre criança abre com cuidado seu avental para mostrar o camponês, o arado e suas parelhas. Mas o pai, tomando um ar muito sério, disse-lhe: “O que você andou fazendo aqui?! Isso não é um brinquedo. Leve-o de volta rapidamente para onde você o pegou, e, sem responder, faça o que eu ordeno, porque sem o camponês você não terá pão. É do trabalho deles que os gigantes crescem sob os céus.”
Este relato foi, inicialmente, oral. A escritora Charlotte Engelhardt-Schweighaeuser (1781-1864) ouviu isso de um guarda florestal. Ela escreveu, então, um poema em alsaciano. Em 1816, a história do Nideck apareceu em uma obra dos célebres Irmãos Grimm. O texto inspirou o poeta Adelbert von Chamisso que compôs o poema “Das Riesenspielzeug – A filha do gigante”.
A Filha do gigante
Autor: Adalbert von Chassimo, poeta alemão
Título original em alemão: Das Riesenfraülein
Título em francês: La fille du géant
Tradução do francês para português brasileiro: Dagoberto Buim
Os altos onde antes se elevava o castelo dos gigantes agora estão desertos.O próprio castelo nada mais é do que uma ruína.Você pode se informar: você não encontrará mais gigantes lá.Entretanto, a lenda do “Castelo de Nideck” é bem conhecida na Alsácia.Um dia, na hora de brincar, a filha do gigante sai do castelo e, descendo a colina,alcança o vale, excitada e curiosa com as descobertas que ali poderia fazer.Com algumas pernadas, ela cruza a floresta chegando a Haslach, terra de homens comuns.Ali, surgiram aos seus olhos maravilhados, cidades e aldeias, campos cultivados, como um mundo bem estranho.Olhando em volta, ela percebe a seus pés um camponês lavorando seu campo.Suas parelhas também a ela pareciam estranhas.Oh! que belo brinquedo, exclama ela: “Eu vou levá-los para meu castelo.Rapidamente ela se ajoelha e estende seu avental.Com um gesto, ela varre tudo o que se move e os guarda em seu avental.Em saltos de alegria, ela retorna ao castelo saudando seu pai “Oh pai … querido pai, encontreium brinquedo maravilhoso no vale, que nunca vi aqui no cume.”O pai sentado à mesa, bebendo seu vinho bem fresco, observa a filhinha com complacência e pergunta:“O que você está trazendo no avental tão torcido?Deixe-me ver esse achado que te faz pular de alegria”.Desdobrando o avental, ela cuidadosamente espalha o camponês, o arado e os animais, ebate palmas, pula e exulta, quando o gracioso conjunto se eleva sobre a mesa.Mas o pai, assumindo um ar muito sério, disse-lhe: “O que você está fazendo! Ele é umcamponês com seus animais e não é um brinquedo.”Leve-o de volta para onde você o pegou, imediatamente e sem resmungo, faça o que euordeno, porque sem o camponês você não teria pão.Do trabalho dos camponeses sai a linhagem dos gigantes, o camponês não é um brinquedo,Deus nos guarde”.Os altos onde antes se elevava o castelo dos gigantes agora estão desertos. Nada mais há doque uma ruína dessa lenda para te fazer sonhar.
Deste castelo onde viveram os gigantes, restam hoje apenas ruínas e esta história de outrora. Também desde 2004, obras em arenito, esculpidas por 8 artistas internacionais, sobre o tema da lenda dos gigantes do Nideck, foram instaladas na floresta. É a primeira trilha internacional de escultura contemporânea na Alsácia. Enquanto esperamos para poder vagar novamente, vamos deixar os gigantes em paz.
Fonte
https://pokaa.fr/2020/04/17/mythes-et-legendes-dalsace-les-geants-du-chateau-du-nideck/ntent Goes Here
https://apps.tourisme-alsace.info/photos/molsheim/photos/218007001_d2.pdf
Amei! Estou cá pensando, uma lenda que mostra a relação entre o gigante (dominador) e o camponês (dominado), que destaca a importância fundamental do trabalho, sem o qual o gigante não teria como “sobreviver”
Ana Maria, obrigado pelo seu comentário. A cultura popular sempre revela as relações de poder, de dominação e de resistência. Esta lenda alsaciana desnuda as relações entre senhores feudais e vassalos. Nada muito distante das relações entre capital e trabalho, entre donos de meios de produção e trabalhadores. A vida impregna a poesia e a poesia a vida.
Valor Histórico-Cultural, imenso!!!
Parabéns, Prof. Dagoberto!!!
obrigado, Vanilda.
Fiquei maravilhada com tamanha informação, parabéns prof. Dagoberto Buim.
É de tirar o fôlego. ?????????????
Obrigado pelo comentário, Neide. Há mais fotos que tiramos dessa região, de outros castelos também em ruínas. É o cenário dos contos de fada.
Obrigado, Neusa. Não podemos perder o fôlego, para continuar em frente nessa luta.
Muito interessante essa lenda , gostei também de como as imagens reais dos locais , me fez imaginar os personagens nós lugares, dado momento pude ouvir o barulho das folhas secas , sendo amarradas pelos gigantes .Foi muito interessante , parabéns pelo seu trabalho.
Neusa, agradecemos o comentário. Essas fotos a que você se refere foram feitas por membros da equipe do Nahum em 2015 quando participaram do trabalho de recuperação do castelo Nideck. Há muitos castelos semelhantes por lá, uns mais destruídos pelo tempo e pelas guerras, outros menos. Ao longo do rio Reno, pela França e pela Alemanha, eles estão lá, sempre no alto das colinas.
Nós, do 5° ano C, da professora Gisele, adoramos o conto “A filha do gigante” e achamos uma aventura, principalmente para a menina que andou por trás da colina e pulou rios. Muito legal o conto! Obrigado, Dagoberto Buim Arena.
Laura e Enzo, essa história tem também uma história que explica o motivo por eu a ter traduzido. Em 2015, eu estava estuando na região da Alsácia, na França e participei de grupos de voluntários que foram fazer limpeza de mato e arbustos em torno das ruínas de um castelo. Era o castelo do Nideck. Lá eu ouvi que essa história tinha se passado naquele castelo. Os Irmãos Grimm recolheram essa história e a publicaram. Como eu vi o castelo e a floresta, logo pensei: “Vou traduzir essa história para que as crianças brasileiras possam ler”. E traduzi. E vocês leram!! Legal!
OLÁ, eu sou da turma do 5º ano C e gostei muito do conto “A filha do gigante”, principalmente do começo onde fala do “CASTELO DE NIDECK”. Também gostei das imagens e do gigante dominador. Muito legal o texto. Obrigado, Dagoberto.
Legal, Gabriel! O castelo atualmente está em ruinas, mas é emocionante saber que foi lá que esta história foi criada pela imaginação popular.