Tradução do alemão para o francês por Paul Ristelhuber – Revista de tradições populares, 1888. Republicação: STOEBER, Auguste. Legends d’Asalce. Editions Ouest-France, Rennes, 2010.
Tradução do francês por Dagoberto Buim Arena
Ilustração de Gabriel Duarte Silva – 9 anos, Uberlândia – MG
O jarro de vinagre
Era uma vez um homem e uma mulher que viviam durante longo tempo em um jarro usado para vinagre. Por fim, eles se cansaram disso e o homem disse à mulher:
– Você é a causa de nós vivermos nesse jarro azedo. Se não fosse você, nós não estaríamos tanto tempo aqui.
Mas a mulher respondeu:
– Não, você é a causa disso!
Então começaram a resmungar e a correr um atrás do outro dentro do jarro de vinagre.
Um pássaro dourado se aproximou do jarro e disse:
– Por que vocês estão discutindo?– Ah! – disse a mulher – nós estamos aqui neste jarro, mas queríamos morar como as outras pessoas, porque aí nós seríamos felizes.
Então o pássaro dourado ajudou-os a sair do jarro e os levou a uma casinha novinha, com um lindo jardim nos fundos e lhes disse:
– Aqui estão vocês. Vivam unidos e felizes e, se precisarem de mim, batam palmas três vezes e digam:Pássaro dourado sob o sol brilhante,
Pássaro dourado na sala de diamante,
Pássaro dourado por todo lugar e em todos os momentos.Depois de algumas semanas, foram até a vizinhança e viram grandes fazendas com grandes estábulos, jardins, campos, cavalos e serviçais. Eles ficaram se lamentando por algum tempo por morarem em uma casinha, e, um belo dia, quase ao mesmo tempo, eles bateram palmas e gritaram:
Pássaro dourado sob o sol brilhante,
Pássaro dourado na sala de diamante,
Pássaro dourado por todo lugar e em todos os momentos.Em um piscar de olhos, o pássaro dourado chegou pela janela e lhes perguntou o que desejavam.
– Infelizmente, disseram, esta casinha é muito pequena. Se nós tivéssemos uma dessas belas fazendas, nós seríamos felizes.
O pássaro dourado piscou os olhos sem dizer nada e os levou a uma grande e bela fazenda, cercada de campos, com estábulos, animais, serviçais e lhes deu tudo de presente.
O homem e a mulher pularam de tanta alegria.
Eles viveram felizes durante um ano e não imaginavam vida melhor. Mas isso não durou muito tempo. Quando foram à cidade, eles viram grandes casas e senhores e senhoras bem enfeitados. Então pensaram:
– Na cidade tudo é maravilhoso e não se é forçado a trabalhar muito.
A mulher não podia ter esse luxo e então disse ao marido:
– Nós queremos também morar na cidade. Chame o pássaro dourado. Nós já estamos há muito tempo na fazenda.
O marido respondeu:
– Chame você!
A mulher então bateu palma três vezes e disse:Pássaro dourado sob o sol brilhante,
Pássaro dourado na sala de diamante,
Pássaro dourado por todo lugar e em todos os momentos.O pássaro dourado entrou pela janela e perguntou:
– O que vocês querem?
– Ah! – disse a mulher – nós estamos aqui nessa vida de camponeses, mas queremos nos mudar para a cidade, ter belas roupas e morar em uma mansão esplêndida. Então nós seremos felizes.
O pássaro dourado piscou de novo os olhos sem dizer nada e os levou à mais bela mansão da cidade. Os guarda-roupas estavam cheios das mais belas roupas da última moda. Eles acreditaram que não havia nada de melhor na face da terra e que não havia felicidade maior.
Mas, infelizmente, isso não durou muito. Eles se sentiram insatisfeitos e disseram:
– Nós poderíamos morar melhor como os nobres nos palácios e nos castelos, com as mais modernas carruagens e serviçais em trajes dourados! Isso seria muito bom!
E a mulher disse:
– Meu marido, é a tua vez de chamar o pássaro dourado!
O marido não queria, mas como a mulher não parava de resmungar, ele bateu palma três vezes e disse:Pássaro dourado sob o sol brilhante,
Pássaro dourado na sala de diamante,
Pássaro dourado por todo lugar e em todos os momentos.O pássaro dourado entrou pela janela e perguntou:
– O que vocês querem?
O marido respondeu:
– Nós queremos ser pessoas da nobreza. Então seremos felizes!
O pássaro piscou fortemente os olhos e disse:
– Gente sempre descontente, quando ficarão satisfeitos? Eu vou fazer de vocês pessoas nobres, mas vocês estão malucos!E lhes deu de presente um belo castelo, uma carruagem, cavalos e muitos serviçais. E eles se puseram a passear todos os dias e não pensavam senão a passar o dia inteiro na alegria e na ociosidade.
Uma vez, quando estavam na capital para assistir a uma grande festa, o rei e a rainha se apresentavam em uma carruagem dourada, com roupas bordadas com ouro, e na frente, atrás e ao lado, marchavam marechais, pajens e soldados. Todo mundo agitava os chapéus e os lenços durante sua passagem. Que impressão essa cena fez no homem e na mulher! Durante o retorno para seu castelo, eles disseram:
– Agora nós queremos ser rei e rainha. Depois nós vamos parar!
Então bateram palma três vezes e gritaram com toda a sua força:Pássaro dourado sob o sol brilhante,
Pássaro dourado na sala de diamante,
Pássaro dourado por todo lugar e em todos os momentos.O pássaro dourado entrou pela janela e perguntou:
– O que vocês querem?
Eles responderam:
– Nós queremos ser rei e rainha e depois seremos felizes!
O pássaro piscou fortemente os olhos, levantou sua plumagem, bateu as asas e disse:
– Pessoas vis vocês são! Quando estarão satisfeitos? Eu vou fazer vocês rei e rainha, mas vocês não terão mais nada! Vocês são insaciáveis.
Agora eles eram rei e rainha e comandavam todo o país. Eles tinham uma corte. Seus ministros e cortesãos eram obrigados a se ajoelhar a sua passagem. Fizeram vir diante deles todos os funcionários e, do alto do trono, eles lhes davam ordens severas. Tudo o que havia de caro e belo eles mandavam lhes trazer, de maneira que o esplendor e a riqueza da corte eram indescritíveis.Eles não estavam totalmente felizes e disseram:
– Nós queremos nos tornar algo mais do que isso!
A mulher perguntou:
– E se nós nos tornarmos imperador e imperatriz?
– Não, disse o marido. Nós devemos nos tornar papa!
– Isso não é o bastante, disse a mulher, com seu ardor! Nós devemos nos tornar Deus!
Mal essa palavra tinha sido pronunciada, sobreveio uma tempestade de vento, e um grande pássaro negro, com fulgor nos olhos como bolas de fogo, entrou pela janela e gritou tão forte que fez tudo tremer:
– Que o diabo os leve para o jarro de vinagre!
Todo o esplendor desapareceu e o homem se viu com sua mulher dentro do jarro de vinagre.
E lá vivem até hoje.
Muito boa essa história. Mostra a verdadeira insatisfação dos homens que vivem almejando sempre mais e mais.
Sim, Iracema. A história aborda um tema recorrente com belas construções literárias. Quando a gente traduz e posta as histórias, a gente espera sempre uma resposta como a sua.
“Quem tudo quer, nada tem!”
Nós, alunos do 5º ano C, da EMEF “Professor Antônio Ribeiro”, de Marília, somos alunos da professora Gisele e queremos contar a nossa experiência com essa narrativa.
– Proferi para a minha mãe, e ela gostou bastante da narrativa e pediu para ver as ilustrações (Fernanda Aparecida).
– Contei a história para a minha mãe. Ela disse que parecia a minha irmã do meio e eu porque tudo que ela faz nada está bom (Arthur).
– Fiz a proferição para a minha mãe, e ela não achou os personagens muito inteligentes porque de tudo tinham e nunca estavam satisfeitos (Miguel Antônio).
– Proferi para a minha bisavó, e ela falou que “Quem tudo quer, nada tem!” (Fernanda Emanuelly).
– Proferi para a minha mãe que falou que eles eram muito exigentes e tudo que viam queriam (Giovanna).
– Proferi para o meu pai, e ele achou a narrativa divertida. Minha mãe ouviu um pouco da história e disse que parecem os meus primos que agem igualmente aos personagens (Sebastian).
– Proferi para a minha avó. Ela disse que parecia a minha mãe porque ela (sendo filha mais nova) é mimada. Ela achou legal e identificou-se muito com o texto (Marina).
– Proferi para a minha mãe. Ela falou que parecem meus primos que querem tudo o que tenho (Laura).
– Eu li (não proferi para ninguém) e identifiquei-me com o meu irmão porque tudo o que a minha mãe faz ele acha pouco (Alice).
– Proferi para a minha avó, e ela falou que parece meu irmão que tudo o que vê quer (Enzo).
Agradecemos pela tradução da história. Se não tivesse traduzido para o português, não teríamos conhecimento da narrativa.
Oi, alunos da Gisele! Li os comentários de vocês a respeito da história “O jarro de vinagre”. Quando li essa história em francês, eu pensei: “Ah! Tem tanta gente assim, que nunca está satisfeita com o que tem! E essas pessoas acabam ficando sem nada!!” Então decidi: “Vou traduzir essa história e postar no site do NAHum só para ver o que os leitores vão dizer”. Eu pensei que somente professores iriam lê-la, por isso fiquei surpreso quando vi que vocês, alunas e alunos da Gisele, tinham lido e também tinham feito a proferição para seus pais, avós e bisavós. Li cada um dos comentários que eles fizeram. Eu percebi que todo mundo tem alguém da família que nunca está satisfeito com o que já tem. E a bisavó da Fernanda já retirou do fundo do baú um velho e bom provérbio: “Quem tudo quer, nada tem!” Espero que vocês continuem lendo e proferindo as histórias que estão no site. Peçam pra Gisele mostrar pra vocês! Melhor ainda: naveguem vocês mesmos, porque vocês podem escolher uma história hoje, outra amanhã. E assim a escola vai se tornar mais gostosa, não é? Um beijo pra vocês! E até a próxima história e o próximo comentário.
Olá, professor Dagoberto, eu vim agradecer por ter mencionado meu nome no seu comentário e por ter traduzido a história.
Fernanda, não há o que agradecer. Eu é que devo agradecer a você por ter lido a história que eu traduzi. Fiquei contente em saber que você tem interesse em ler histórias como a do Jarro de Vinagre.
Eu gostei muito do texto. A mulher e o homem são muito exigentes iguais pessoas que eu conheço. A história foi muito bem escrita e o pássaro podia só ter dado um desejo para os dois.
O pássaro era muito sábio!! Ele já sabia que as pessoas são assim, insatisfeitas. Ele aproveitou para alertar a todos que o orgulho exige alto preço!!