OS POMBOS DA PRAÇA DO MERCADO
Visão ampla da Praça do Mercado
Visão parcial do interior do Mercado
A Praça do Mercado de Cracóvia é uma das mais belas praças da Europa. Criada na segunda metade do século XIII, pouco tempo depois da fundação da cidade em 1257, ela, rapidamente, tornou-se testemunha de eventos gravados na memória coletiva.
A Praça do Mercado é o coração de Cracóvia. Deste lugar irradia a vida da cidade. Nós todos a atravessamos atarefados várias vezes ao dia, mas também vamos até ela para nos repousar e para respirar sua atmosfera carregada de uma história milenar. É um lugar que está gravado no coração de todos e para onde se volta sempre. Na praça se encontra a igreja de Notre-Dame e o mercado de tecidos. É nela que se conclui o sucesso do famoso desfile do cortejo de Lajkonik. É impossível de visitar Cracóvia sem passar várias horas descansando em um de seus numerosos cafés e restaurantes. Quando se admira essa grande praça da Europa, veem-se milhares de pombos sempre no mesmo lugar, do lado da rua Saint Jean e Saint Florian. Mesmo que causem preocupações aos habitantes em relação à salubridade, ninguém tenta fazê-los partir. Todas as crianças cracovianas vêm à praça ao menos uma vez para alimentá-los, e algumas pessoas o fazem até a sua velhice. Por que os habitantes de Cracóvia amam tanto seus pombos?
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No fim do século XIII, o príncipe, nomeado Henri IV, o Honesto, reinava sobre o trono de Cracóvia. Ele não se alegrava do título de rei, porque a Polônia estava dividida em vários pequenos principados e não era mais governada por apenas um soberano. O príncipe Henri tentava reunir novamente as terras polonesas e se tornar rei. Mas para subir ao trono, o príncipe devia obter o acordo do papa, segundo os costumes da época. Somente o papa poderia consagrar a coroa real e presidir a coroação do rei. Isso era nos tempos do pontificado de Nicolas IV, época das últimas cruzadas e da perda do último bastião da resistência dos Cruzados em favor dos Sarracenos: a cidade de Acre.
Henri começou os preparativos para sua partida para Roma. Ele não tinha dinheiro suficiente. Ele o utilizara inteiramente para equipar seus cavaleiros que o ajudaram a juntar algumas terras dispersas. A lenda diz que, para resolver seu problema, foi a uma bruxa. Ela prometeu ajudá-lo sob uma única condição: ela transformaria seus cavaleiros em pombos que trariam ao longo do dia pedrinhas para a Praça do Mercado. À noite as pedrinhas se transformariam em ouro. Os cavaleiros reencontrariam seus corpos assim que o príncipe fosse coroado e retornasse à Cracóvia. Depois de muita conversa com seus cavaleiros, o príncipe concordou com as condições da bruxa. Toda a assembleia de cavaleiros valentes e corajosos se transformou em um bando de pássaros. Os pombos trouxeram laboriosamente as pedrinhas e à noite, no meio da praça, se levantou uma boa pilha de pedras que se transformou em ouro durante a noite. O príncipe colocou o ouro dentro de seus cofres e de suas malas e partiu com sua comitiva à Roma. Os pombos ficaram na praça e começaram a esperar o retorno de Henri à Polônia.
Nós sabemos hoje que o príncipe nunca chegou a Roma. Parece que após sua chegada a Veneza, ele permaneceu lá por algum tempo. Diz-se também que alguns de seus pombos-cavaleiros o seguiram até lá e deram à luz aos pombos venezianos da praça de São Marcos. Os outros príncipes, desejando o trono e maliciando a respeito de Henri, propagaram o rumor de que ele gastou todo o dinheiro com farras e prazeres. Mas outras fontes históricas contam os numerosos encontros e emboscadas em que o príncipe perdeu todo o seu ouro. Os tempos eram de desordens. Na Alemanha, Rodolphe de Habsbourg, o ancestral da maior dinastia europeia, subiu ao trono imperial; a Suíça combatia Guilherme Tell; e a Associação Hanseática estava começando a se criar. Por volta do ano de 1289, Henri voltou a Cracóvia sem coroa. Até a sua morte ele não ousou colocar os pés na Praça do Mercado e olhar de frente seus fiéis companheiros. Ele morreu no ano seguinte, provavelmente envenenado. Seus cavaleiros jamais retornaram ao corpo humano. Há 700 anos eles sobrevoam o Mercado, observando os pedestres. Eles esperam seu príncipe para se libertarem do encantamento.
Talvez seu sacrifício não tenha sido totalmente inútil, porque 30 anos após, um outro príncipe de Cracóvia, Ladislas I, o Breve, recebeu a coroa do papa João XXII e tornou-se o novo rei polonês. Seu filho Casimir III, o Grande, restituiu o esplendor e a potência a todo o reino. A cidade de Cracóvia começou a se desenvolver e tornou-se rapidamente uma das cidades mais potentes da Europa graças, entre outros fatores, à célebre Universidade fundada em 1364 e denominada hoje Universidade Jaguelônica. Dentro do recinto dessa famosa universidade teve lugar o célebre congresso de monarcas da Europa que, entre seus convidados, contou com a presença do imperador alemão Charles IV e outros soberanos.
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Os habitantes de Cracóvia jamais se esqueceram de seus magnânimos cavaleiros e cuidarão de seus pombos enquanto a praça continuar a espalhar seus caminhos pela cidade e permanecer o encantamento.
Durante a visita a Cracóvia, é preciso visitar o mais antigo prédio da faculdade, o “Collegium Maius” com seu museu.
Vista parcial do Collegium Maius
Pátio interno do Collegium Maius
Texto publicado no livro Legendes de Cracovie escrito em polonês por Zbigniew Iwanski e traduzido para o francês por Dobromila Pachlowska-Daumay. Tradução do francês para o português por Adriana Pastorello Buim Arena.
Fiquei com muita vontade de conhecer esta praça!!!!
Sueli
Nestes tempos russos, Sueli, não é bom tentar conhecer não!