As alunas Geovana Gonçalves e Laís Menezes, do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, orientadas pela professora Adriana Pastorello Buim Arena, construíram uma história escrita a partir de um relato oral de Geralda Magela Gonçalves como parte das atividades desenvolvidas na disciplina Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa.

Mistérios de Angá: um lugar desconhecido

Fonte: arquivo pessoal das autoras.

Em uma roça chamada Angá, situada no interior de Minas Gerais, distante de qualquer vizinhança, moravam cinco jovens irmãos com seus pais, em uma casa muito grande feita de madeira. O caminho da roça, ambiente de passagem de todos os dias para os trabalhos de colheita, era também onde se ouviam passos que os acompanhavam de casa até a roça e da roça até a casa. Certo cômodo da casa havia sido interditado pela razão de lá ter morrido um homem enforcado. Mas, para chegar à cozinha, que se encontrava no porão, era preciso passar em frente a esse cômodo e descer uma escada.

Antônio era o irmão que via coisas assustadoras. Certa noite, ele e seus irmãos estavam a caminho da cozinha para procurar o que comer, quando todos, ao mesmo tempo, ouviram passos que pareciam vir de trás deles. Todos ficaram assustados. Quietos. Paralisados. Antônio imediatamente viu uma mulher na ponta da escada toda vestida de preto, com cabelos assustadores. Antônio gelou, soltou um grito sufocado de medo e todos saíram correndo para o quarto de dona Maria, a mãe, e seu Geraldo, o pai, que perguntou a eles:

– Que cêis tão fazendo? Tenho que madrugar cas galinha pra trabaiá prô seu Joaquim amanhã. Vai dormir cêis tudo!

– Pai, o senhor tem que deixar nóis dormir aqui, tamo com muito medo, o Antônio viu uma muié la na cozinha, não era nenhum de nóis – retruca Geralda, a irmã mais velha.

– Para de prosa ocêis, isso não faz mal a ninguém não, deita aí e me deixa descansá.

A partir de então todos os filhos só dormiam no quarto dos pais, que não davam muita importância para essas histórias. Na verdade, seu Geraldo também via muita coisa, mas já tinha se acostumado tanto que não sentia medo.

Algum tempo depois, Geralda e Ana, que gostavam muito de cantar com uma amiga que também morava em Angá, mas bem distante da casa delas, foram visitar a parceira de cantoria. Elas costumavam passar boa parte do dia por lá, e, por isso, na hora de voltar, as meninas, que já tinham medo até de passar sozinhas pela estrada durante o dia, haviam combinado com Antônio que as buscasse por volta das 17h, horário que já começa a escurecer na roça. E assim fez Antônio.

Na volta, pela estrada, ele começou a ouvir galopes muito altos atrás de si e virou-se para ver o que era: avistou um cavalo preto com um cavaleiro de capa preta que vinha em alta velocidade levantando poeira em sua direção. Desesperadamente, chamou as meninas que já estavam mais à frente, mas elas não viam nem ouviam nada diferente. Quando Antônio olhou novamente, não havia mais cavaleiro, nem cavalo. Ele saiu correndo, gritando e suas irmãs o acompanhavam sem saber o motivo pelo qual corriam.

Desde então, as meninas não faziam mais questão de sair na companhia de Antônio, e ele também se aliviou de não precisar mais frequentar aquela estrada à noite.