Ao que parece, o lugar onde Cracóvia foi construída, há cerca de seiscentos a oitocentos anos, foi escolhido por uma colônia nômade eslava. O lugar não foi escolhido por acaso, porque as pessoas sempre buscavam morar em lugares confortáveis para viver e fáceis de defender. Eles encontraram esse lugar sobre uma vasta planície atravessada pelo rio Vístula. Em suas bordas elevava-se uma colina de calcário, mais tarde chamada de colina de Wawel.

Lá foi construído rapidamente um castelo fortificado. A seus pés surgiu uma pequena cidade. O primeiro nome do rei Krak deu o nome à cidade: Cracóvia.

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Hoje a colina de Wawel não nos parece muito alta, mas havia alguns séculos, o castelo de Krak dominava consideravelmente a região. As rochas que o sustentavam eram altas, entrecruzadas de falhas e escondiam grutas profundas. Um dragão ocupava uma dessas grutas. Esse dragão dormia e se alimentava de suas próprias reservas até os homens construírem confortáveis moradias próximas de seu covil. Pode ser que isto que será contado tenha acontecido quando os animais domésticos apareceram nas pastagens. Uma vez, em uma bela manhã, o dragão reapareceu nas margens do Vístula e, a partir de então, devorou todos os animais de criação. Ele teria até sequestrado meninas, especialmente donzelas, pelas quais ele tinha particularmente grande apetite. Os habitantes tinham medo de sair de suas casas. A cidade começou a viver no terror, e alguns cidadãos se prepararam para partir.

O rei Krak sabia que, se não eliminasse o dragão, teria que deixar sua cidade e perder as terras conquistadas. Ele fez vir seus mais bravos guerreiros e cavaleiros. Prometeu a mão de sua filha e seu reino para aquele que eliminasse o dragão.

As crônicas não nos dizem quantos homens enfrentaram o desafio, mas nenhum o venceu. Os habitantes viviam com um medo cada vez mais paralisante, vendo, com desespero, o dragão levando embora as últimas donzelas. Um dia, um aprendiz de sapateiro que aprendeu como fabricar os sapatos para os burgueses cracovianos, se apresentou diante do rei. Diz-se que ele se chamava Skuba. Ele declarou ao rei que tinha um desejo profundo de casar-se com a princesa e que a partir daquele momento pretendia vencer o dragão. Para fazer isso, ele só precisava de muito enxofre, pele de ovelha e gordura de carneiro.

O rei ordenou que lhe fornecessem tudo o que ele pedira. Skuba se trancou em seu quarto e costurou energicamente as peles trazidas, enchendo-as de enxofre e cobrindo seus pelos com gordura. Antes do alvorecer, ele chamou a Guarda Real para que ela o ajudasse a pegar aquela ovelha enorme e colocá-la as margens do Vístula.

O dragão despertou, como de hábito, ao alvorecer. Engoliu com satisfação a refeição servida. Mas, em vez de estar satisfeito, ele sentiu no interior de seu ventre um fogo crescente, cujas chamas queimavam cada vez mais. O enxofre consumia suas entranhas.

O dragão, tentando apagar o fogo, se jogou no rio e começou a beber água com avidez. Mas, como as chamas não queriam se apagar, ele bebia e bebia ainda mais da água do Vístula. Seu ventre inchou, inchou e, de tanta água em demasia, explodiu.

A notícia sobre morte do dragão alegrou o rei Krak. O sapateiro Skuba tornou-se o herói dos habitantes de Cracóvia, felizes com essa paz reencontrada. E a princesa também estava contente, porque seria bom ter alguém razoável e astucioso como marido.

Até hoje, conforme uma expressão falada em Cracóvia, diz-se que as pessoas engenhosas, que sabem sair de situações difíceis e ao mesmo tempo despertam admiração, são “skubany”, em homenagem ao engenhoso sapateiro Skuba.

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Quanto ao dragão, resta apenas uma imensa caverna chamada A Gruta do Dragão. Pode-se vê-la durante a visita ao castelo de Wawel. Passeando pelas margens do rio, as crianças de Cracóvia podem admirar a estátua do dragão, que cospe fogo regularmente, assustando os mais pequenos.

Hoje em dia, o dragão de Wawel é a mascote mais conhecida e a mais mimada de Cracóvia. Quase todos os turistas levam consigo uma para casa.

Depois de visitar a gruta do dragão, é preciso visitar toda a Wawel – o tesouro da cultura polonesa, o orgulho de toda a nação.

Texto publicado no livro Legendes de Cracovie escrito em polonês por Zbigniew Iwanski e traduzido para o francês por Dobromila Pachlowska-Daumay. Tradução do francês para o português por Adriana Pastorello Buim Arena.